Ontem (09/05) faleceu, aos 87 anos, o mais famoso ex-estudante da universidade adventista Oakwood College: o cantor Little Richard. Ele mesmo, a estrela do rock nos anos 50, cantor de ‘Tutti Frutti’ e ‘Good Golly Miss Molly’, o homem do ‘wop-bop-aloo-bop-alop-bam-boom’. Como a maioria dos artistas do rock daquela época, Richard Penniman (seu nome real) foi criado nos bancos de igrejas batistas e pentecostais da América.
Como é que Little Richard foi parar em Oakwood College, fundado em 1896 para afro-americanos recém-libertos do escravismo no meio do Alabama? Foi durante uma turnê na Austrália, em outubro de 1957, que o cantor anunciou que estava largando a vida de roqueiro para se tornar pastor. Antes de um show em Sidney, a aeronave que ele estava sofreu forte turbulência e Richard diz ter visto luzes brilhantes de anjos protegendo o voo, o que ele tomou como um sinal divino.
De volta aos Estados Unidos, ele se matriculou em Oakwood e durante cinco anos só gravou música gospel. Em sua biografia, lançada em 2003, Richard admitiu que sua saída dos palcos foi motivada por prejuízos financeiros, pela insatisfação com o seu estilo de vida de astro do rock’n’roll e por ter deixado a religião de sua adolescência.
Em 1958, Richard Penniman participou de uma campanha de evangelização ao lado do pregador adventista E. E. Cleveland. A revista Review and Herald (setembro/58) cobriu a ocasião e registrou que “duas ex-estrelas do show business, Joyce Bryant e Richard ‘Little Richard’ Penniman” deram testemunhos de sua conversão e que “ao ex-roqueiro chamar seus fãs ao púlpito, mais de 300 pessoas atenderam o convite, e ele fez uma tocante oração com eles”.
Little Richard voltou aos palcos seculares em 1962, ano em que os Beatles abriam os shows que ele fez na Europa, junto com sua banda Upsetters (da qual fazia parte um jovem Jimi Hendrix).
O cantor voltaria ao mundo da música cristã em 1977, após uma tragédia familiar e problemas com uso de drogas. Ele passou a criticar o “mundo do rock” outra vez e gravou um disco gospel em 1979, ‘God’s Beautiful City’. No lado A desse disco, ele gravou músicas como o clássico evangélico ‘I Surrender All’ [em alguns hinários cristãos é conhecido como ‘Tudo Entregarei’], e no lado B, Richard gravou pregações e testemunhos pessoais de sua vida. Em 1981, ele lançaria o single ‘Where would I Go without the Lord’ [Para onde eu iria sem o Senhor].
Little Richard só conciliaria sua veia roqueira com o ministério cristão em meados dos anos 80, quando passou a combinar rock com a “mensagem cristã”, o que ele chamou de ‘messages in rythm’ [algo como ‘mensagens com ritmo’].
Honrado com grandes homenagens da crítica e da indústria da música, Little Richard ele prosseguiu com shows em que cantava seus antigos sucessos dos anos 50 e também pregando em pequenas igrejas ou em grandes auditórios.
Num show de 2009, no Tennessee, ele encerrou dizendo: “Eu canto rock’n’roll, Deus me ama. Eu sou um cantor de rock, mas também sou um cristão”.
Eu vou rir, vou aplaudir? Vou apenas lembrar que dentro de um fenomenal cantor e pianista também havia algum espaço vazio onde ele resolveu colocar sua fé.
Joêzer Mendonça (via facebook)